Prefácio II – Adenor Leonardo Bachi (Tite)
O meu pensamento sobre futebol e os conceitos que trabalho sobre o jogo trazem ideias para um jogo que priorize a sincronização de todos os aspectos táticos à excelência técnica dos jogadores. Os conceitos que costumo trabalhar com meus jogadores passam pela boa definição de suas posições e função em jogo e envolvem, entre outros aspectos, a posse qualificada da bola, as triangulações especialmente em profundidade, a marcação agressiva, e a velocidade das ações em transição de jogo.
Acredito que para desenvolvermos estes conceitos e maximizarmos a qualidade esportiva de uma equipe devemos nos preparar para, de forma inteligente, conseguir extrair o potencial máximo de nossos jogadores nas diferentes componentes do jogo (física, técnica, tática e emocional).
Ao encontro disso este livro chega em boa hora e com uma importante missão: auxiliar os treinadores e os profissionais do futebol, de um modo geral, a agregar conhecimentos para que possamos fundamentalmente nos capacitar para apresentar cada vez mais trabalhos que qualifiquem nosso jogo.
Os autores desta obra alertam para a interrelação entre os conceitos de tática e estratégia, desenvolvimento da tática através do modelo e dos princípios de jogo, a criação e ocupação de espaços, o posicionamento e a movimentação dos jogadores, que considero conceitos fundamentais para quando nos preparamos para jogar uma partida. Ao fazer esta preparação, criamos uma estratégia, antecipamos possíveis situações, buscamos dar aos atletas e à equipe opções de movimentações ofensivas e posicionamentos defensivos que possibilitarão alcançarmos nossos objetivos. Uma preparação bem feita e fundamentada, permite-nos no transcorrer da partida reafirmar ou, se necessário, repensar a estratégia inicial, pois o jogo fala e nos mostra outros caminhos, o que implica em, de repente, utilizarmos o plano B, alternativas táticas que também foram trabalhadas no pré-jogo.
Num dos capítulos deste livro, é destacada a Modelação Tática, que é a manifestação do que planejamos e entendemos do jogo e como interpretamos a sua essência. Para um futebol ser jogado com ideias, a modelação do treino e do jogo deve dar aos atletas condições de pensar, de propor o jogo. Através desta organização podemos qualificar as suas tomadas de decisão e ter jogadores mais ativos do que reativos ao jogo. Digo isto, porque a mim, agrada mais ver atletas e equipes que não apresentam sistematicamente um jogar reativo.
Como forma de verificar se os jogadores compreendem os conceitos que passo para eles, tenho buscado sistematicamente ferramentas para avaliar, operacionalizar e direcionar o treino de acordo com a forma como penso o futebol, como gosto de ver as minhas equipes em campo. Sou apologista de equipes que possuam jogadores criativos, com boa qualidade técnica (bom domínio, bom passe, etc.) com boa leitura de jogo, intensos, velozes, dinâmicos, competitivos e solidários… Evidentemente, sei que todas essas qualidades em uma mesma equipe serão difíceis de serem encontradas, porém, quanto mais dessas qualidades minha equipe tiver, mais próximos da excelência em desempenho e, consequentemente, das vitórias estaremos.
Particularmente, 2014 foi um ano de qualificação profissional. Reservei em minha vida pessoal e profissional um tempo para observar in loco jogos do BayernMunich, Barcelona, Real Madrid, Arsenal, Manchester City, Atlético de Madrid, entre outras equipes, e acompanhar partidas decisivas como as finais da Champions League e da Copa Libertadores. Nestas oportunidades pude interagir com profissionais de alto nível como Carlos Bianchi e Carlo Ancelotti e ter várias conversas interessantes, onde pude rever e confirmar os meus conceitos de futebol. Aproveitei este tempo para também ler e estudar os princípios táticos (Gerais, Operacionais, Fundamentais, Específicos) e as formas de sua aplicação à metodologia de treino que adoto para permitir minha equipe atuar como proponente do jogo. Através do conhecimento adquirido pude pensar em treinos novos e motivadores que pudessem, entre outras coisas, ajudar o posicionamento dos jogadores em campo em várias situações como: coberturas defensivas e ofensivas, criação de jogadas ensaiadas nas bolas paradas ofensivas, posicionamento e movimentação de defensores em bolas paradas, organização intra e interlinhas da equipe, movimentações ‘agressivas’ e ‘velozes’ nas transições de jogo, como o perde-pressiona, contra-ataque entre outros.
Assim, diante do crescimento da importância da componente tática para o jogar de qualidade – e podemos constatar de perto esta importância nos jogos da Copa do Mundo no Brasil – este excelente livro do trio de professores Israel Teoldo, Guilherme Oliveira e Júlio Garganta vem para trazer ideias que permitam iluminar o futebol, e, como promotores diretos deste espetáculo, acredito que nós todos devemos aproveitar essa luz. Assim espero que você leitor possa aproveitar esta leitura. Eu e meus colegas de Comissão Técnica já estamos aproveitando!
Boa Leitura
Adenor Leonardo Bachi (Tite)